De que maneira a profunda e persistente desigualdade socioeconômica afeta a integridade do
Estado de Direito? O principal objetivo deste artigo é procurar entender os efeitos, no sistema
jurídico, da polarização entre pobreza e riqueza, especialmente com relação a uma das idéias
centrais do Estado de Direito: a noção de que as pessoas devem ser tratadas de maneira
imparcial pela lei e por aqueles encarregados de sua implementação. O argumento principal
proposto aqui é que a exclusão social e econômica, decorrente de níveis extremos e duradouros
de desigualdade, destrói a imparcialidade da lei, causando a invisibilidade dos extremamente
pobres, a demonização daqueles que desafiam o sistema e a imunidade dos privilegiados, aos
olhos dos indivíduos e das instituições. Em suma, a desigualdade socioeconômica extrema e
persistente corrói a reciprocidade, tanto em seu sentido moral quanto em seu interesse mútuo,
o que enfraquece a integridade do Estado de Direito.