Usina Santa Amália é um livro escrito com a malícia das rapsódias, tal como os folhetos de cordel do Nordeste: sábios, quando parecem ingênuos; trágicos, quando passam por farsescos; realistas, fingindo-se de metafóricos. Quando tudo indica que fantasiam, expõem os nervos da verdade.
Humberto Gomes de Barros, com suas patéticas confissões de "menino de usina", espicaça quem procura entender o Nordeste. Ele não apenas viu, viveu quase tudo quanto narra. Em sentido contrário, mas com a mesma agressividade, provoca quem nunca se preocupou em desvendar os contrastes dessa região tão miserável e tão bela.
O que parece exótico e pitoresco, mas que no fundo são puras manifestações de humanidade de um dos segmentos mais homogêneos da região - o povo da cana de açúcar - é tratado como traços de identidade cultural. O repertório envolve sentimentos e impressões de todo tipo: crueldade, lirismo, coragem, espírito emprreendedor, pobreza, ingenuidade, realismo, meio ambiente, psicologia, fauna e flora, comes e bebes.
Conformismo aqui, valentia acolá. As marcas que trazem no corpo e na alma os sobreviventes teimosos de um ciclo histórico superado, mas do qual ninguém arreda o pé. Indiferentes ao anacronismo, seguem em frente.